Escrever sobre o fim da Ordem dos
Templários não é uma tarefa tão fácil assim. Houve muitos interesses envolvidos
e analisar cada um deles seria uma verdadeira dissertação de mestrado. Por
isso, nesse espaço tentarei abordar apenas o contexto da prisão de Jacques De
Molay – grão-mestre da Ordem – o que já é complexo, mas, por outro lado,
interessante também.
Para melhor explicar essa prisão
é preciso compreender alguns personagens e cenários da história. O primeiro
deles era a situação cristã na Terra Santa. Desde a queda de Acre, último
território cristão na região, em 1291, as Ordens militares ficaram
desprestigiadas no ocidente. Surgiram correntes de pensamento que pregavam a
união da Ordem do Templo com a Ordem do Hospital, para assim surgir uma nova
Ordem, maior e mais poderosa. A posição, tanto de uma, quanto de outra, era de
serem contrárias a essa fusão.
Outros dois personagens
relacionados à prisão de De Molay foram: o papa Clemente V e o rei da França,
Filipe IV, também chamado de O Belo. Clemente V alcançara seu posto com o apoio
de Filipe. O papa tinha um objetivo muito claro em seu pontificado: realizar
uma cruzada. Para isso, precisava do apoio dos reis cristãos, principalmente de
Filipe IV. Já o rei da França, envolvido em batalhas em seu reino, possuía
muitas dívidas e uma economia arrasada pelas guerras. Ele, em atitudes
desesperadas, já havia confiscado dinheiro e posses dos judeus e dos lombardos,
além de expulsá-los de seu reino. Até com a Igreja ele tivera problemas
financeiros. Isso resultou em sua excomunhão pelo então papa Bonifácio VIII.
Com a ascensão de Clemente V ao papado, Filipe IV passou a cobiçar os bens e
propriedades da Ordem do Templo. Mas falaremos disso mais adiante, por
enquanto, vamos nos ater aos interesses do papa.
A ideia de uma nova cruzada já
estava em estágio avançado na Europa. Os principais conselheiros de guerra
sugeriram uma investida com tropas menores e mais profissionais. Para isso,
contavam com as Ordens do Templo e do Hospital. Mas a preferência era para uma
fusão dessas Ordens, pois assim, a ofensiva contra o inimigo seria mais
eficiente. No entanto, essas ideias não eram unânimes. Jacques De Molay tinha
uma posição contrária a elas. Ele, além de ser contra a fusão das Ordens,
defendia uma cruzada com um exército maior, em grande escala, não contando
apenas com a capacidade das Ordens militares.
Como De Molay era analfabeto, uma
conversa direta com o papa seria a melhor maneira de expressar suas estratégias.
Clemente V decidiu realizar uma conferência com ele e com o grão-mestre da
Ordem do Hospital em fins do ano 1306. Porém o papa teve problemas de saúde que
o impediram de conferenciar com eles nesse ano, ficando a reunião para o final
de 1307. Enquanto isso, o grão-mestre dos Templários suscitou algumas acusações
que foram feitas contra a Ordem do Templo e pediu uma investigação ao papa.
As acusações foram feitas por
cavaleiros expulsos da Ordem, como: Esquin de Floyran, prior de Montfaucon;
Bernardo Pelet, prior de Mas-d´Agenais; e Gerard de Byzol, cavaleiro de Gizors.
Os Templários foram acusados de homossexualismo, ofensas a Cristo e adoração a
um demônio chamado Baphomet, que podia ter a forma de um gato, um crânio, ou
uma cabeça com três rostos; entre outras. Para o rei da França essas acusações foram
suficientes para ordenar secretamente – nem mesmo o papa havia sido consultado
– a prisão de Jacques De Molay e de cerca de 15 mil membros da Ordem em todo
reino da França.
O papa se sentira extremamente
ofendido pela ação unilateral de Filipe IV, porque, além de
realizar a prisão de membros de uma Ordem sob autoridade papal, ele ainda utilizara
outra instituição eclesiástica, a Inquisição. Na França, o Santo Ofício era usado como um
instrumento de coerção pelo Estado, já que o inquisidor-mor era o confessor do
rei Filipe. Com isso, as torturas e as péssimas condições das prisões foram
suficientes para que muitos templários confessassem o que os inquisidores
queriam. Ainda mais porque muitos dos presos não eram guerreiros, mas cumpriam outras
funções dentro da Ordem, como lavradores, pastores, ferreiros, carpinteiros e
mordomos. Logo, Jacques De Molay confessou que negara Jesus Cristo e escarrara
em sua imagem.
Menos de 1 mês depois da
confissão de De Molay, o papa enviou uma carta a todos os reis e príncipes da
cristandade pedindo que prendessem todos os templários e mantivessem suas
propriedades sob custódia da Igreja. Clemente V enviara a Paris três cardeais
para que ouvissem o grão-mestre templário. Ele, no entanto, revogou sua
confissão e mostrou as marcas das torturas em seu corpo. Os cardeais perceberam
que os templários eram inocentes e que as acusações feitas contra eles não
correspondiam à realidade.
O processo contra os templários
foi suspenso em 1308. Contudo, Jacques De Molay continuava nas mãos do rei. Sua situação – e de alguns
outros cavaleiros – era muito complicada, pois segundo as leis da
Inquisição, hereges reincidentes deveriam ser queimados na fogueira e esse foi seu destino. Em 1314 ele foi morto em Paris.
Em breve contarei mais um pouco
da história dos Templários.
(fonte: livro Os Templários de Piers Paul Read)
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