Com os cátaros não foi diferente. Embora
cristãos fervorosos, foram dizimados em uma cruzada direcionada contra eles.
Isso porque não partilhavam de algumas práticas e dogmas pertencentes à
religião católica.
Região do Languedoc na França |
Os cátaros surgiram na região do
Languedoc, no sul da França, que era a sociedade mais avançada da Europa
cristã, durante a Idade Média. Lá, o comércio com as cidades espanholas,
incluindo as das regiões dominadas pelos mouros, fluía livremente e o contato
entre diferentes culturas, como a islâmica, a cristã e a judaica, era uma
realidade. Os nobres eram letrados e o fanatismo religioso não era uma prática
comum.
A corrupção do clero católico, porém,
contrastava com essa iluminada sociedade. O comportamento clerical foi uma
vergonha para a Sé Católica e uma decepção para as famílias de nobres que
fizeram doações de terras, dinheiro ou outros bens à Igreja. Não à toa o
anticlericalismo foi uma consequência direta das atitudes de padres e bispos.
Nesse contexto surgiu a heresia que
ficou conhecida como catarismo. Os cátaros eram denominados puros ou perfeitos
e seus membros podiam ser tanto homens como mulheres. Eles andavam sempre em
duplas – o que serviu de argumento para serem acusados de sodomia – pregavam
aos campesinos e fazendeiros e partilhavam do trabalho, alimentação e orações.
Eles incentivavam o modo de vida simples e humilde, assim como viveu Jesus
Cristo. O comportamento deles se assemelhava muito ao dos cristãos dos
primeiros séculos de nossa Era. Ainda mais com a mulher tendo a mesma
importância que o homem, assim como era no cristianismo primitivo.
A visão de mundo dos cátaros, no
entanto, incomodou a Igreja. Pela doutrina cátara a cruz não era um objeto que
simbolizava Jesus, pois foi nele que se deu seu sofrimento e morte. O batismo e
a presença na missa aos domingos também não eram necessários para a vida
espiritual. A salvação, no entanto, estava no dia-a-dia aplicando na sociedade
as virtudes como caridade, humildade e a prática de servir ao próximo.
Outra heresia praticada pelos cátaros
era a de crer em dois Deuses. Um era o Deus mal, que criou o mundo e toda
matéria presente no universo. O outro era um Deus bom, responsável por tudo
quanto era espiritual. A missão do homem, segundo o catarismo, era transcender
a matéria, renunciar a tudo de mal e aderir ao Amor, sentimento que ligava ao
Deus bom.
Esse pensamento foi partilhado, também,
no começo da Era Cristã, por uma seita da Armênia conhecida como Paulicianos. Essa
seita foi tida como uma ameaça pelo Império Bizantino que os expulsou daquela
região. Foram enviados para a Trácia, no norte da Grécia. De lá, suas ideias
chegaram na Bulgária. Nesse local, um padre de sobrenome Bogomilo, fundou uma
Igreja com as ideias dualistas trazidas pelos paulicianos. Eles rejeitavam o
Antigo Testamento, o batismo, a eucaristia, a cruz, os sacramentos e toda
estrutura da Igreja Católica. Supõe-se que as ideias cátaras foram, em grande
parte, influenciadas pela seita dos Bogomilos.
Ilustração da Cruzada Albigense |
O fim dos cátaros se deu quando o Papa
Inocêncio III decidiu empreender uma Cruzada, contra essa heresia, na cidade de
Albi. Daí o nome de como ficou conhecido esse conflito, Cruzada Albigense. Ao
todo foram mais de trinta anos de batalhas, começando em 1209 e terminando em
1244. Os cátaros foram dizimados. Homens, mulheres e crianças, todos se
depararam com a fúria e força dos cruzados.
Foi um triste fim, mostrou a todos como pode
ser incerto o futuro daqueles que não simpatizam com uma potência armada.
Alia-se a isso o fanatismo religioso e a cobiça por terras e poder.
Infelizmente esse não foi um caso único na história. Mas com certeza ainda pode
ajudar, pelo menos como um ponto a ser refletido, para que não mais ocorram
genocídios como esses.
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