Quando
se fala em Gnose é comum pensar que se trata de uma corrente cristã dos três primeiros
séculos. Essa afirmação, no entanto, se aplica apenas a um ramo do gnosticismo.
A Gnose é uma corrente de pensamento mais antiga e mais abrangente do que o
cristianismo. Pode-se encontrar sua essência entre as religiões egípcias,
frígias, judaicas, persas e babilônicas.
Na
Gnose os discípulos não ficavam presos aos ensinamentos de seus mestres, pelo
contrário, havia a liberdade de mudarem ou adaptarem as lições de acordo com as
experiências que vivenciavam. Assim como as crenças orientais foram influenciadas
pelas culturas e religiões grega e romana.
Em
parte, a busca dos gnósticos era compreender e alcançar as verdades do mundo.
Porém, não no sentido exclusivamente filosófico, ausentando o pensamento
religioso dessa explicação. Pelo contrário, eles procuravam combinar a religião
com os conhecimentos do universo para, assim, conseguirem chegar a alguma
revelação.
Uma
das características da Gnose é que seus praticantes desejavam entrar em contato
com a divindade não somente pelos princípios morais ou pela fé, mas sim, pelo
pensamento, conhecimento, imaginação e sentimento. Esse processo não era
puramente intelectual. Como a Gnose é algo do mundo espiritual, é de uma forma
espiritual que o ser humano a alcançará e terá a Revelação. O gnóstico é aquele
que conhece e compreende a Revelação interior e exterior a ele.
A
Gnose é como um poder ou virtude e também pode ser chamada de fé. Na escola
trimegística a fé é a compreensão ou percepção espiritual. Ela é a síntese das
sete virtudes ou poderes espirituais, que são: Gnose, contentamento,
autocontrole, moderação, retidão, comunhão com tudo que existe e verdade.
A
Gnose é uma dádiva de Deus, mas, mesmo sendo de origem Divina, ela é uma graça
do espírito e pode ser passada adiante. Nada atrapalha o homem em Gnose, pois
ele é capaz de transpassar o mal que lhe aflige numa força só encontrada no
bem. E a visão do Bem é acompanhada por uma sensação de êxtase do senso
corporal.
A
Gnose só pode ser operada através da morte mística, em que o gnóstico realiza
uma transmutação através de si mesmo para renascer com a natureza espiritual de
um Deus. No entanto, essa natureza só poderia ser alcançada se a alma passasse
pelos mesmos processos de transformações que o mundo. Daí o interesse nos
mistérios do Cosmo. Mas não pode se esquecer que conhecer os mistérios do mundo
é apenas o começo, e não o fim por si só. O caminho, ou senda, para a Gnose é
gradual e espiritual. Mas não é preciso morrer para atingi-lo e sim eliminar os
vícios que nos prendem à matéria.
Escolas Gnósticas
O
gnosticismo pode ser encontrado em, basicamente, duas vertentes. Uma delas é a
escola persa, com a influência dos pensamentos de Zoroastro. A outra é a sírio
egípcia, com suas doutrinas tendendo ao monoteísmo.
Dentro
da escola persa é possível encontrar duas correntes de pensamento, o mandeísmo e
o maniqueísmo. Os mandeístas acreditam em João Batista como seu Messias e têm o
hábito do batismo. Essa crença é anterior ao cristianismo, mas ainda hoje são
encontrados grupos que nela creem, principalmente no Iraque. Já o maniqueísmo
foi uma doutrina criada pelo profeta Mani, no século III. Para criá-la Mani foi
buscar influências no zoroatrismo, budismo, hinduísmo e cristianismo. De acordo
com seus ensinamentos, haveria dois Deuses, uma divindade boa e outra má, sendo
que a má era responsável por criar o mundo material. Mani foi crucificado e
seus discípulos perseguidos. Essa religião durou até a Idade Média.
Outras escolas, correntes ou grupos gnósticos
são os seguidores de Cerinto, um homem que pregava que Cristo era um espírito
celeste, diferente do homem Jesus. Além disso, acreditava no Demiurgo como uma
entidade do mal e criador do mundo material – outras correntes gnósticas também
tinham essa crença – e na segunda vinda do Messias. Mas essa não foi a única
corrente gnóstica que apareceu no mundo. Ainda existiam: os Ofitas, que
acreditavam na serpente do Gênesis como fonte de conhecimento; os Cainitas que
seguiam a Caim; os Carpocracianos; os Borboritas; os Bogomilos; e os Cátaros.
Sendo que esses dois últimos, ocorreram na Idade Média e foram duramente
reprimidos pela Igreja.
Nenhum comentário:
Postar um comentário