Histórias que relatam as vidas de príncipes e princesas
que moram em um mundo mágico, repleto de fantasia, como fadas, magia e
florestas encantadas, fazem parte da imaginação de muitas crianças. Isso ocorre
em diferentes regiões do planeta. No Brasil não podia ser diferente. Boa parte
dos meninos e meninas do país são agraciadas com as histórias dos contos de
fadas. Afinal, o tão famoso “Era uma vez...” faz parte do repertório popular e
é difícil encontrar quem nunca o ouviu.
O que poucos sabem é que essas histórias vão muito além
de aventuras fantásticas em um mundo distante, como muitos creem. Os contos
populares remetem o leitor – ou ouvinte, como é melhor dizer, já que essas
crônicas chegaram aos nossos dias através da via oral – a uma tradição mística
muito antiga.
A tradição primordial, como é possível dizer, chegou ao
mundo atual de duas formas bem distintas. A primeira, pelas raízes sacerdotais,
em livros como a Bíblia, os Vedas ou o Corão. Como o próprio nome diz, os
responsáveis por transmitir os ensinamentos antigos eram os sacerdotes das
grandes religiões. Mas houve outra forma dessas lições serem transmitidas ao
povo. Essa forma era através dos contos populares.
O que comprova a origem comum – e iniciática – dessas
histórias é a grande similaridade em alguns de seus aspectos. Geralmente,
existe uma alusão à busca por algo perdido ou oculto, tal como o Santo Graal, a
Pedra Filosofal dos alquimistas, ou o Soma hindu. Essa busca é a procura pelo
estado primordial, pelo laço com a tradição que é preciso ser reestabelecido.
Assim, é comum encontrar narrativas em que o herói parta em busca de um país
desconhecido, um objeto escondido, ou uma princesa desaparecida.
Outra similaridade entre os contos é a passagem, do
herói, por provas e viagens até encontrar aquilo que busca. Esta etapa pode ser
comparada ao despertar provocado pelo beijo iniciático. E, falando sobre beijos,
vale destacar os finais dos contos em que aparece algum casamento. Trata-se de
um paralelo com a união sagrada do hierogamos – tradição primitiva de diversos
povos antigos na qual um futuro rei se unia numa relação sexual com uma
sacerdotisa – representando os princípios masculino e feminino, humano e
divino, o bem e o mal.
Em contraste com as literaturas clássicas que relatam a
trajetória do herói – sua ascensão e queda – os contos populares não têm essa
pretensão de serem didáticos. A aparente falta de sentido em relação às
tradições é, na verdade, uma deixa para que se sobressaia o sentido simbólico
das histórias.
Um detalhe válido de relatar é que, antigamente, os
contos não tinham essa roupagem moralista e infantil como se vê hoje. Eles,
pelo contrário, eram contados por adultos e para adultos, pois abordavam temas
polêmicos, como: adultério, sexo, rapto de crianças, bruxaria, canibalismo e
outros assuntos que assustariam qualquer homem crescido, quanto mais uma
criança.
Pode se dizer que os contos populares representam o sobrenatural
em estado puro. Esteja preparado, portanto, antes de narrar aos seus filhos
qualquer conto de fadas, pretensamente ingênuo. Procure nessas histórias o
significado de seu simbolismo, pois você pode se surpreender ou se apaixonar por
todo ocultismo que as envolve.
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