sábado, 23 de agosto de 2014

A espada templária

Uma das características da Ordem do Templo era a sua completa e efetiva Regra. Nela foi regulamentado, até os últimos detalhes, os usos e comportamentos de um Irmão da Ordem. E então cabe uma pergunta: Como era a espada destinada a um templário?

É importante deixar claro, desde o princípio, que os Retrais (complementos da Regra Primitiva da Ordem) não indicam uma norma clara e explícita a esse respeito. Mas deixam alguns indícios que permitem fazer uma reconstrução bastante exata de como devia ser e quais critérios adaptar.

A espada templária: uma arma padronizada?

Parece que sim. Para embasar essa afirmação basta ler o que está escrito no artigo 138 da Regra, que se refere ao material que recebe cada irmão iniciante:

“Uma cota de malha, calças de ferro, elmo, uma espada, um escudo, uma lança, uma maça turca, uma sobreveste, camisão, sapatos de cota de malha, três facas, um punhal (...)”

Obviamente, cada postulante recebia seu próprio equipamento regulamentado. Não importava que o futuro irmão tivesse equipamento próprio. Independente da espada que levava, seria lhe entregue uma segundo a norma. 

O voto de humildade estava presente em vários artigos da regra primitiva. O artigo 18, por exemplo, diz: “... Ordenamos a todos que tenham o mesmo...”

De tal maneira que, salvo as diferenças que encontramos entre drapiers, armeiros e artesãos, os irmãos templários não deviam diferenciar-se uns dos outros, amparando-se no voto de humildade. Os Retrais nos deixa claro que há diferenças sutis quanto a quantidade – que não é qualidade – de equipamento entre os cargos da Ordem e um irmão raso, mas fundamentalmente era sempre o mesmo equipamento. O artigo 18 se refere à roupa, mas, em artigos posteriores, especialmente o 138, já mencionado, pode-se dizer que estão incluídos a roupa e as armas no mesmo artigo. Pois o armamento fazia parte da indumentária dos cavaleiros.

Outra pista sobre a padronização das armas templárias são encontradas no artigo 66 da regra primitiva, relativa aos cavaleiros seculares que ingressavam na ordem para passar um determinado tempo:

“Ordenamos que todos os cavaleiros seculares (...) que adquiram, cumprindo a norma, um cavalo e armas adequadas (...) E mais, que ambas as partes deem um preço ao cavalo e que esse preço fique por escrito para não ser esquecido (...) e deixai que tudo o que o cavaleiro, seu escudeiro e seu cavalo necessitem provenham da caridade fraterna segundo os meios da casa.”

Observa-se um detalhe: se pede que o cavaleiro porte armas adequadas, o que sugere uma norma de tipologia e qualidade. Não se tinha qualquer espada, senão a espada que se considerasse adequada, ou seja, uma arma que cumprisse determinados padrões. 

Por outro lado, determinadas comendas (considere-se as comendas maiores ou as que tinham guarnição militar) dispunham de um arsenal próprio, tal como se observa no artigo 102: “O mariscal deveria ter sob sua jurisdição todas as armas da casa: aquelas que foram adquiridas para dá-las aos irmãos (...)”

Mas não se deve parar nesse artigo, pois há uma frase que é repetida por toda a regra, tanto no relativo a armas e armaduras como a outros pertences que é “(...) será dado pela casa”. O que reforça a opinião de que existia um estoque de material.

Enfim, daqui pode-se notar que cada templário recebia uma só espada e essa espada tinha que cumprir uma série de critérios de morfologia e qualidade. Se sugere também a existência de arsenais onde se armazenavam as armas sob tutela do mariscal da ordem (cargo eminentemente militar).

A espada templária: qual era o tipo de lâmina usado?

Ainda que não esteja escrito em nenhum lugar, haja vista que cada templário recebe da casa somente uma espada, parece bastante óbvio que tinha que ser uma espada de arção. Apta tanto a combater montado quanto a pé.

Outro dado que reforça essa tese está no artigo 144, que diz: “(...)nenhum irmão pode encurtar seus estribos de couro, nem seu arreio, nem o cinto de sua espada (...) sem permissão(...)”

Encurtar os estribos implica em combater com a espada ao invés de com a lança. Quer dizer combater corpo a corpo, pois assim o cavaleiro pode erguer-se sobre os estribos para acertar um golpe, ou para ter mais campo para manipular a arma. Da mesma forma, ajustar o arreio, e o cinturão da espada supõe se preparar para a ação. Quer dizer: só poderia preparar-se para o manejo da espada com a permissão necessária antes de entrar em combate.

Tipologia de Oakeshott
Ainda falta identificar a lâmina. Não se pode dizer que contamos com algum testemunho escrito, mas temos uma cronologia e um estudo a sobre a morfologia das espadas. Segundo a denominação Oakeshott, se pode deduzir sem muita margem de erro que a lâmina deveria ser uma X, uma Xa, ou uma XI. Em todo caso, havia um amplo sulco (por mera funcionalidade: um aspecto sóbrio que não contraria o voto de humildade. Nada de luxo desnecessário).   

Deduzimos, então, que a espada templária era de arção (pelas regras), sóbria (pelo voto de humildade) e com um grande sulco no centro de sua lâmina (pelas características da época).

A espada templária: como era sua guarnição?

Esse é um terreno mais especulativo, mas não menos verossímil. No artigo 561, nos detalhes da penitência – sobre um irmão expulso que reteve seu equipamento – não como aparece no manuscrito de Curzon, senão pelo de Dijon, se menciona expressamente que a espada “lembra a cruz que temos no peito”. Sabemos – não pela regra, mas pelos usos gerais – que era habitual rezar ante a cruz da espada, considerando esta como tal. Se recordava uma cruz, não é presunçoso pensar duas coisas:

1ª – os guarda-mãos deviam ser retos ou espatulados

2ª – dado a definição da cruz pátea – símbolo do Templo – implica que deveria ser mais larga nos extremos do que nos centros e guarda-mão espatulado tipo 5 (segundo Oakeshot).

Nos sobra por definir o pomo da empunhadura e essa será a afirmação mais temerária. Nada aparece escrito ou aludido na Regra a esse respeito. Mas sendo esse um trabalho que demandava muito esforço e os cavaleiros templários tendo feito votos de pobreza e humildade essa parte da espada provavelmente não deveria incorporar adorno algum. Um pomo poligonal ou com forma de noz implica em um trabalho extraordinário para o armeiro. Assim, não é muito fora da realidade teorizar que o pomo seria discoidal (o menos trabalhoso). Um tipo G, H, I ou J1 segundo Oakeshott.

Essa informação é a menos rigorosa dentro desse artigo, mas ainda assim não é tão avoada e contém uma certa lógica.

Para finalizar: como era a espada templária?

Segundo o explicado anteriormente, a espada de um irmão templário seria uma arma de guarnição, sujeita a uma certa norma de qualidade não especificada. Feita de arção com um amplo sulco, guarda-mãos totalmente retos ou espatulados, pomo discoidal e isenta de qualquer adorno supérfluo. 

(tradução livre do texto encontrado no site:http://www.espadasydragones.es/armas-medievales-la-espada-templaria)  

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

A mística de Raul Seixas

Hoje completam 25 anos da morte de Raul Seixas. O roqueiro é conhecido como o maluco beleza, aquele cara que é louco, mas que não machuca ou agride ninguém, o que é uma visão um tanto quanto simplista sobre quem foi esse artista.

Raul nasceu na Bahia, desde criança escutou rock, porém não esqueceu de suas raízes na cultura nordestina e era um grande fã de Luis Gonzaga, assim como de Elvis Presley. O tempo passou e a criança que gostava de rock fundou um grupo que futuramente viria a ser chamado de Raulzito e os Panteras. Essa banda acompanhou Jerry Adriani em sua turnê pelo nordeste e logo após Raul se muda para o Rio de Janeiro onde começou o trabalho como produtor da CBS. Até que um dia ele decide conhecer um jornalista que escrevia numa revista sobre disco voadores e outras loucuras místicas. O nome desse jornalista era Paulo Coelho e esse encontro marcaria profundamente, não só a vida dos dois, mas também a da música brasileira e, o que mais nos interessa aqui nesse blog, o universo místico e esotérico do Brasil.

Paulo Coelho apresentou a Raul as ideias daquele que foi o mais importante mago do século XX, Aleister Crowley. A partir de então uma sequência de músicas sobre Thelema foram feitas pela dupla. E mais, Marcelo Mota, o responsável por trazer ao Brasil a obra de Crowley, tornou-se um parceiro de Raul e Paulo Coelho e, com eles, escreveu músicas antológicas do rock brasileiro. Obras primas, como A Maçã e Tente Outra Vez são o resultado dessa parceria.

Algum tempo depois, ainda nos anos 70, houve uma tentativa de fazer no Brasil a Sociedade Alternativa, uma comunidade anárquica com total influência dos ideais de Crowley. É óbvio que os militares, que governavam o país na época, não aceitaram essa sociedade e a ideia se perdeu.

A parceria entre Raul e Paulo deixaria de existir ainda na década de 70. Mas em suas canções Raul nunca se desvinculou do universo místico e esotérico. Em seu último disco, por exemplo, há uma música chamada Nuit, que pode tanto significar noite, em francês, como ser também o nome da deusa dos céus egípcia, que por sinal é a principal oradora da primeira parte do livro da lei de Aleister Crowley e tem uma grande importância para a Thelema.

Outra música que merece ser mencionada chama-se Água Viva, do disco Gita. Ela faz um relato de que pela noite corre uma fonte de água que dá vida a todas as criaturas. Essa música foi inspirada na obra do poeta e místico espanhol, São Juan de La Cruz, mais precisamente no poema A Noite Escura da Alma. Essa poesia, escrita em 1578 ou 1579, narra a jornada da alma na noite escura até encontrar a fonte de toda luz, que é Deus.


Para finalizar, parece até lugar comum falar que a obra de Raul é imensa. Seus últimos dias de vida e sua morte, porém, são tristes. Raul tinha um carisma e uma profundidade mística em seu trabalho que fizeram dele quase que uma figura de um profeta. Um santo que é seguido por multidões. Claro que o cantor não era nada disso, mas hoje, após 25 anos de sua morte, ainda é difícil aceitar a perda de um artista tão rico em simbologia, sarcasmo, poesia. Enfim, tantos outros atributos que, com certeza, o fazem ser o maior expoente do rock n`roll no Brasil.

Viva Raul!