segunda-feira, 27 de abril de 2015

Ferramentas para plenitude (artigo escrito para Revista Caminho Espiritual 36)

Práticas para a meditação, reza, contemplação e oração. Passos importantes para alcançar e conquistar a realização espiritual.

A espiritualidade é um dos mais importantes fundamentos para um caminho de paz, felicidade e contentamento profundo. Muitos a buscam. Poucos a encontram. Isso porque ela está intimamente ligada a uma profunda felicidade e isso não é obtido nem com dinheiro nem com qualquer objeto físico.

Existem muitos caminhos para alcançar a espiritualidade. Seguir essas rotas, no entanto, é um desafio. As pessoas encontram muitas barreiras que as impedem de evoluir espiritualmente e as deixam apegadas ao que é material: o dinheiro, um novo modelo de carro, uma droga viciante, prazeres carnais, enfim, perigosos deleites que fazem muita gente se perder da via evolutiva.

É natural se divertir, sorrir e ser feliz com a prosperidade. Isso é até recomendado para quem quer ter uma vida saudável. Ser espiritualmente elevado, porém, independe da condição financeira. É algo muito mais profundo e varia de pessoa para pessoa.

Um estudo dessas condições já foi feito por muitos que têm na espiritualidade seu objetivo de vida, como monges, freiras e sacerdotes de diferentes cultos e religiões. O que se aprendeu foi a prática de quatro atividades que se assemelham e confundem-se uma com as outras. São elas: oração, reza, contemplação e meditação.

Na realidade, essas quatro palavras são muito subjetivas, o que faz com que cada uma represente diversos atos que o ser humano pode realizar quando deseja “conversar” com Deus ou ficar em paz consigo mesmo.

Essas ações exigem esforço e dedicação de quem as realiza. Por isso, é importante reservar um determinado tempo para praticá-las. Além, é claro, de escolher um local especial, que fique longe de tumultos e confusões, para que a mente e o espírito possam fluir livremente sem as amarras do mundo material.

Reza

Diversos povos, em diferentes países, utilizam ou já utilizaram a prática de rezar como algo arraigado em suas culturas. Aqueles que acreditam em um ou mais deuses sentem a necessidade de se comunicar com eles e a forma mais básica de fazer isso é rezando.

Essa prática varia de religião para religião e de Deus para Deus (no caso de politeísmo). No Islamismo, por exemplo, o fiel deve se voltar para Meca e rezar apenas em locais limpos. No Judaísmo, é obrigatório o uso do solidéu ou quipá. E no Catolicismo utiliza-se o sinal da cruz para iniciar e terminar uma oração.

É muito comum, também, rezar para se comunicar com os espíritos, no geral de familiares já mortos. Quem utiliza essa prática, normalmente, são as religiões ou seitas espíritas, como o Kardecismo e as religiões de origem africana. Mas, também no Catolicismo há uma data especial para lembrar os mortos, o dia de finados, que acontece em 2 de novembro.

Existe uma polêmica quanto aos verbos rezar e orar. Pelas definições dos dicionários um dos significados de rezar é: realizar orações. Essas palavras são sinônimas, porém, para os protestantes (evangélicos) não representam a mesma coisa. Para eles, rezar é apenas repetir uma oração já pronta, como, por exemplo, a Ave Maria. Não há valor nisso, ao contrário de orar que, segundo eles, é uma forma de se louvar a Deus. Já para os católicos rezar é entendido num sentido mais amplo e genérico e a oração é uma forma de se rezar, que pode ser através da contemplação, da oração mental, da meditação, entre outras.

Oração

A oração é uma prática fundamental para quem deseja elevar a espiritualidade. Através dela, o ser humano comunga com Deus, purifica e alimenta sua alma. Mas, para conseguir esses e outros benefícios não basta ler ou entoar friamente versos prontos ou criados na hora. Para orar é preciso atenção. É importante não se distrair ou deixar a mente vagar. Quando se atinge o estado de concentração necessário o próprio coração se regozija.

Engana-se, no entanto, quem imagina que a oração é feita somente de arrependimento, contrição e súplicas. Também é válido realizar louvores, bendições, adorações, agradecimentos e deixar de lado qualquer sentimento que machuca a alma.

Dentro da tradição judaico-cristã, para uma boa oração é preciso aprender a conversar com Deus, falar das necessidades, erros, dificuldades; pedir para que emoções e pensamentos sejam purificados; suplicar por virtudes, iluminação, compreensão dos defeitos; expressar gratidão, etc.

Há obstáculos, porém, para quem está começando a orar. Para ultrapassá-los é necessário conhecê-los.

Saiba planejar o tempo para a oração

O primeiro deles é querer iniciar com orações que durem longos períodos de tempo. São muitas as chances de dar errado. Principalmente porque quando não se tem o hábito de orar o passar do tempo implica em dispersão do pensamento. Por isso, o início deve ser feito de forma gradativa. Primeiro, quinze minutos. Depois, pode-se aumentar o tempo para meia hora e, conforme o desenvolvimento, praticar a oração pelo tempo desejado para usufruí-la ao máximo.

A preguiça, a falta de uma posição confortável e um local inadequado são obstáculos fáceis de superar, ao contrário das faltas de: costume, interesse, vontade, satisfação e contentamento; que são barreiras fortes e comuns. Ter expectativas fantasiosas também é prejudicial, pois, apesar da prática espiritual dar resultados – e ela sempre os dá – se eles não forem o imaginado, um sentimento de frustração pode pesar contra ela.

Preparo e concentração

Se preparar adequadamente durante o dia é fundamental. É necessário aprender a relaxar e se concentrar. Sem isso a prática de orar se torna nula. Entre as diferentes formas de desenvolver a concentração, a oração incessante é uma das mais eficazes. Ela é um método que, aos poucos, proporciona tranquilidade, paz de espírito, felicidade, satisfação e contentamento. Essa prática consiste em escolher uma palavra, frase ou oração (inspirada nas Sagradas Escrituras) e repeti-la constantemente, como, por exemplo, é feito ao se rezar o terço. A conquista de resultados depende diretamente da persistência e frequência com que se pratica a oração incessante.

Outra forma de se rezar é fazer a oração mental. Trata-se de direcionar a mente para estar apenas com Deus, sem buscar as coisas do mundo. Através desse método uma oração como o Pai Nosso, por exemplo, pode durar cerca de uma hora. Pois, cada palavra que a compõe é refletida, meditada e sentida profundamente.

Os graus de oração

Santa Teresa de Ávila dividiu as orações em quatro graus:

1° grau – No primeiro, há muito esforço e sofrimento para se manter em oração. Pois, as emoções estão reprimidas e ainda se está preso aos estímulos externos. Há um esforço mental desgastante e cansativo. A alma está distante de Deus. Afastar-se dos desejos mundanos é muito difícil para a maioria das pessoas, mas é preciso ter paciência e persistir. Nenhum esforço é inútil.

Nesse grau inicia-se a tentativa de falar com Deus sem orações formais, mas com o coração. As palavras correspondem ao que se sente no íntimo, conforme as necessidades, aflições, inquietudes e outras sensações. Esse começo de caminho culminará no amor divino.

2° grau – Esse grau pode ser chamado de oração de quietude. Nele, se deseja solidão, silêncio e recolhimento. Surge uma grande fome e sede de Deus. Suas principais características são a paz, a felicidade, a satisfação e um silêncio cheio de contentamento. Nesse estágio, a mente ainda é instável e pode-se sair do estado de oração facilmente, basta um movimento de pensamento, memória ou imaginação.

Esse estágio de prática de oração se assemelha a algumas técnicas de meditação oriental.


3° grau – Nesse grau a quietude da alma fica muito mais forte. O pensamento, a memória e a imaginação ficam suspensas. Pode ser que um medo de deixar a mente nesse estado atrapalhe a oração. Mas quando ele é atingido não há mais distrações. A suavidade, a paz, a felicidade e o contentamento são muito maiores do que no grau anterior.

É semelhante a um estado meditativo profundo.

4° grau – Esse é um grau de uma união mais estável com Deus. Todo o arrebatamento, as sensações de bem estar e felicidade são muito maiores nesse nível. A mente entra num transe extático. Talvez esse estágio se assemelhe ao samadhi hindu ou nirvana budista.

Passar de um grau a outro pode demorar, por isso é preciso ter paciência. Mas, conforme se atinge os graus superiores, é importante não se esquecer da humildade e das virtudes que se desenvolvem com a prática da oração. De nada vale atingir um êxtase de espírito, se as ações que realizar não condizerem com suas práticas espirituais.

Contemplação

Contemplar pode ser definido como observar. Mas não é apenas olhar. Para contemplar é preciso mais. É necessário que a mente e o coração se tomem daquilo que está sendo observado, até não haver mais nada ao redor que atrapalhe esse processo. Pode-se entender a contemplação como um dos diferentes tipos de oração. Pois, quando se está contemplando uma imagem, seja ela da natureza ou construída pelo homem, uma sensação agradável, que remete a Deus é sentida.

Não são apenas os espiritualistas cristãos, budistas, taoístas e hindus que utilizam a contemplação. Ela pode ser encontrada nos exercícios que os cabalistas judeus usam para meditar. Na Cabala, uma das formas de entrar em contato com a divindade é escanear com os olhos os 72 nomes de Deus. Geralmente, escolhe-se um desses nomes e passa-se um determinado tempo observando-o.

Mas não é fácil se entregar à prática de contemplar. Para isso, é preciso muita concentração. O pensamento pode voar enquanto se está olhando para uma imagem, principalmente se ela for estática. A contemplação requer que não só a vista fique centrada na imagem, mas, também, o pensamento. É comum que distrações aconteçam, porém, com o tempo, aprende-se a ter concentração.

Meditação

A meditação não foi exclusividade de um único povo. Diversas civilizações possuíam uma, ou mais, técnicas para refletir e se voltar ao centro de si mesmo (essa, aliás, é a definição em latim da palavra meditare). Assim, hindus, budistas, maias, incas, hebreus e muitos outros povos já utilizavam a meditação. E, hoje, essa prática está presente em praticamente todas as nações. 

São muitas as formas de meditar. Talvez, uma das técnicas mais comuns seja a de focar o pensamento em um único ponto, objeto ou ação, como a respiração, por exemplo. Mas essa não é a única.

Entre os chineses existe uma técnica (que pode ser considerada também como arte marcial) chamada de Tai Chi Chuan. Trata-se de executar, lentamente, movimentos inspirados na natureza. Os benefícios dessa técnica são tantos que, hoje em dia, ela é amplamente difundida nos países ocidentais. Pode-se dizer que o Tai Chi Chuan é uma meditação em movimento.

Outra técnica muito eficiente é um exercício chamado de Pilar do Meio. Trata-se da visualização de um pilar luminoso que desce do céu e passa pelo meio do corpo, atingindo os principais chacras, enquanto se entoa os nomes de Deus em hebraico. Essa prática ficou conhecida pois era uma das formas de adquirir energia para realizações de rituais da Ordem mística Golden Dawn.

Comece a praticar

Os significados de orar, rezar, contemplar e meditar estão enraizados um no outro. As semelhanças são enormes. Pode-se rezar orando, contemplando ou meditando. Assim como se pode meditar através da contemplação e oração, ou orar por meio da contemplação.

As quatro técnicas são importantes para o ser humano. Por isso, são essenciais a todos que desejam aproximar-se da divindade. Entretanto, não basta fechar-se numa redoma e imaginar que realizando cada uma das quatro ações já se está evoluído. Para que isso aconteça é necessário desenvolver as virtudes no convívio com a sociedade e praticar ações coerentes com os princípios do bem, de si próprio e do próximo.