segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Martinismo: cristianismo e magia

O cristianismo e a magia, em um primeiro momento, parecem não se misturar. De fato, a maioria das instituições cristãs – incluindo aí a Igreja Católica e as evangélicas – não reconhece a magia como uma via para se chegar a Jesus ou louvar a Deus.

Mas a história aponta para uma tênue linha de divisão entre a crença cristã e a prática mágica. É assim desde a passagem de Cristo pela Terra. A Bíblia, aliás, conta que em seu nascimento Jesus recebeu a visita de três reis magos, cada um entregando um presente para o rei dos judeus.

Séculos depois na Idade Média a Ordem dos Templários, tipicamente cristã, parece ter utilizado muitos conhecimentos ocultos em seus rituais e rotinas. Diz-se que a Ordem descobriu uma série de segredos sob as ruínas do velho e destruído templo de Jerusalém. A cabala e o hermetismo dos antigos sábios judeus poderiam ser alguns desses segredos.

A Ordem do Templo, porém, foi caçada e logo seus milhares de membros foram presos, mortos ou – aqueles que sobreviveram – decidiram fugir para locais mais seguros e distantes da Inquisição.

Entretanto o conhecimento hermético não desapareceu, ele se manifestou novamente com os rosa-cruzes do século XVII e, já no século XVIII, uma importante corrente cristã surgiu na Europa. Baseado nos ensinamentos de Martinès de Pasqually, mestre maçom do rito dos Elus Cohen, e nos escritos de Jacob Boheme, Louis Claude de Saint-Martin inicia uma nova doutrina mística e filosófica: o martinismo.

Entre outras definições, o martinismo consistiu em interiorizar os rituais praticados pelos Elus Cohen. Além disso, Saint-Martin deixou de utilizar a maçonaria e seus rituais como forma de entrar em contato com a divindade e com os seres invisíveis. Para se iniciar no martinismo bastava ser um homem, ou mulher, que tivesse vontade de se reintegrar com o divino.      

Algumas décadas após a morte de Louis Claude de Saint-Martin, já no século XIX, o martinismo passou por uma reformulação. A ele foram incorporados alguns elementos maçônicos, como a iniciação em 3 graus e a estrutura de uma Ordem iniciática. Um dos grandes responsáveis por essas mudanças foi o místico Papus, que também foi um dos nomes que estruturou a Ordem Cabalística da Rosa-Cruz.

A partir daí apareceram inúmeras Ordens martinistas. Isso é um dado relevante, pois permite que cristãos interessados em ocultismo, magia, teurgia e esoterismo em geral, possam ingressar em uma Ordem que visa acima de tudo fazer o bem. O martinismo é praticado através de muita oração e de uma estrutura moral impecável – que é conquistada com o tempo e com muito esforço. Ou seja, é uma alternativa cristã em um universo enorme composto por Ordens de magia negra, thelemistas – que seguem a doutrina de Aleister Crowley – Wicca, entre outras.

O martinismo tem uma preocupação muito forte com a cura de pessoas e almas doentes, tanto física quanto moral e espiritualmente. Uma vez dentro da Ordem é necessário esquecer que terá algum status ou fama com isso. Lá se trabalha com o silêncio e seu mais alto grau é o de Superior Incógnito, ou seja, superior desconhecido.

Portanto, para se tornar um martinista é preciso muita vontade e, ao mesmo tempo, um controle efetivo sobre o orgulho. Pois esse não é um caminho para quem busca um reconhecimento mundano e, com ele, galgar posições sociais. Mas sim para quem quer se doar, mesmo tendo a certeza de que será desconhecido, e praticar o bem, ainda que com o tempo tudo que fizer caia no esquecimento.


Para quem se interessa há os sites Hermanubis e Sociedade das Ciências Antigas. Eles contêm muito material sobre o martinismo. Vale a pena conhecê-los. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário