domingo, 8 de fevereiro de 2015

Gnose

Quando se fala em Gnose é comum pensar que se trata de uma corrente cristã dos três primeiros séculos. Essa afirmação, no entanto, se aplica apenas a um ramo do gnosticismo. A Gnose é uma corrente de pensamento mais antiga e mais abrangente do que o cristianismo. Pode-se encontrar sua essência entre as religiões egípcias, frígias, judaicas, persas e babilônicas.

Na Gnose os discípulos não ficavam presos aos ensinamentos de seus mestres, pelo contrário, havia a liberdade de mudarem ou adaptarem as lições de acordo com as experiências que vivenciavam. Assim como as crenças orientais foram influenciadas pelas culturas e religiões grega e romana.

Em parte, a busca dos gnósticos era compreender e alcançar as verdades do mundo. Porém, não no sentido exclusivamente filosófico, ausentando o pensamento religioso dessa explicação. Pelo contrário, eles procuravam combinar a religião com os conhecimentos do universo para, assim, conseguirem chegar a alguma revelação.

Uma das características da Gnose é que seus praticantes desejavam entrar em contato com a divindade não somente pelos princípios morais ou pela fé, mas sim, pelo pensamento, conhecimento, imaginação e sentimento. Esse processo não era puramente intelectual. Como a Gnose é algo do mundo espiritual, é de uma forma espiritual que o ser humano a alcançará e terá a Revelação. O gnóstico é aquele que conhece e compreende a Revelação interior e exterior a ele.

A Gnose é como um poder ou virtude e também pode ser chamada de fé. Na escola trimegística a fé é a compreensão ou percepção espiritual. Ela é a síntese das sete virtudes ou poderes espirituais, que são: Gnose, contentamento, autocontrole, moderação, retidão, comunhão com tudo que existe e verdade.

A Gnose é uma dádiva de Deus, mas, mesmo sendo de origem Divina, ela é uma graça do espírito e pode ser passada adiante. Nada atrapalha o homem em Gnose, pois ele é capaz de transpassar o mal que lhe aflige numa força só encontrada no bem. E a visão do Bem é acompanhada por uma sensação de êxtase do senso corporal.

A Gnose só pode ser operada através da morte mística, em que o gnóstico realiza uma transmutação através de si mesmo para renascer com a natureza espiritual de um Deus. No entanto, essa natureza só poderia ser alcançada se a alma passasse pelos mesmos processos de transformações que o mundo. Daí o interesse nos mistérios do Cosmo. Mas não pode se esquecer que conhecer os mistérios do mundo é apenas o começo, e não o fim por si só. O caminho, ou senda, para a Gnose é gradual e espiritual. Mas não é preciso morrer para atingi-lo e sim eliminar os vícios que nos prendem à matéria.

Escolas Gnósticas

O gnosticismo pode ser encontrado em, basicamente, duas vertentes. Uma delas é a escola persa, com a influência dos pensamentos de Zoroastro. A outra é a sírio egípcia, com suas doutrinas tendendo ao monoteísmo.

Dentro da escola persa é possível encontrar duas correntes de pensamento, o mandeísmo e o maniqueísmo. Os mandeístas acreditam em João Batista como seu Messias e têm o hábito do batismo. Essa crença é anterior ao cristianismo, mas ainda hoje são encontrados grupos que nela creem, principalmente no Iraque. Já o maniqueísmo foi uma doutrina criada pelo profeta Mani, no século III. Para criá-la Mani foi buscar influências no zoroatrismo, budismo, hinduísmo e cristianismo. De acordo com seus ensinamentos, haveria dois Deuses, uma divindade boa e outra má, sendo que a má era responsável por criar o mundo material. Mani foi crucificado e seus discípulos perseguidos. Essa religião durou até a Idade Média.

Outras escolas, correntes ou grupos gnósticos são os seguidores de Cerinto, um homem que pregava que Cristo era um espírito celeste, diferente do homem Jesus. Além disso, acreditava no Demiurgo como uma entidade do mal e criador do mundo material – outras correntes gnósticas também tinham essa crença – e na segunda vinda do Messias. Mas essa não foi a única corrente gnóstica que apareceu no mundo. Ainda existiam: os Ofitas, que acreditavam na serpente do Gênesis como fonte de conhecimento; os Cainitas que seguiam a Caim; os Carpocracianos; os Borboritas; os Bogomilos; e os Cátaros. Sendo que esses dois últimos, ocorreram na Idade Média e foram duramente reprimidos pela Igreja.

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